25 de abr. de 2011

G1 acompanha excursão pela zona de exclusão do desastre de Chernobyl.


Na Ucrânia, turistas visitam área contaminada de acesso restrito.
Reator que explodiu há 25 anos e cidade fantasma fazem parte do roteiro.



Ainda é cedo da manhã em Kiev, a capital da Ucrânia, quando o grupo de turistas começa a chegar. A excursão é para um lugar incomum: a chamada zona de exclusão de Chernobyl, palco do maior desastre nuclear da história, há exatos 25 anos. Trata-se de uma região isolada à qual só se pode ter acesso com autorização especial do governo.
Assista ao lado à reportagem em vídeo
O local ainda apresenta radioatividade, por isso cada um dos visitantes tem que assinar um termo isentando os organizadores de qualquer responsabilidade. A viagem até a entrada da zona de exclusão dura cerca de 2 horas. Na chegada, soldados checam a identidade de cada um, e a viagem pode prosseguir. A zona fica numa área remota no norte da Ucrânia, quase na fronteira com Belarus.
Quando aconteceu o acidente, em 1986, todas as pessoas num raio de 30 quilômetros foram retiradas. Anos mais tarde, algumas pessoas, chamadas de recolonizadores, ganharam o direito de voltar, sob sua própria responsabilidade.
Brinquedo abandonado na praça central de Pripyat. (Foto: Dennis Barbosa/G1)Brinquedo abandonado na praça central de Pripyat. (Foto: Dennis Barbosa/G1)
Dois turistas finlandeses tiram fotos perto de uma placa que indica que se trata de uma zona de radioatividade. Eles dizem não ter medo de vir a um lugar como esse. "Moramos numa cidade próxima a uma usina nuclear, por isso ficamos interessados em vir aqui", conta um deles.
Imagem feita pelo fotógrafo da usina de Chernobyl, Anatoliy Rasskazov, poucas horas após a explosão no reator 4, mostra uma coluna de vapor radioativo saindo da instalação. O fotógrafo foi exposto a 12 vezes o máximo aceitável de radiação naquela época. M (Foto: AP)Imagem feita pelo fotógrafo da usina de Chernobyl,
Anatoliy Rasskazov, poucas horas após a explosão
no reator 4, mostra uma coluna de vapor radioativo
saindo da instalação. O fotógrafo foi exposto a 12
vezes o máximo aceitável de radiação naquela
época. Morreu no ano passado, após anos lutando
contra o câncer e doenças sanguíneas. (Foto: AP)
Os participantes do passeio ganham contadores Geiger, medidores de ratioatividade, para registrar com as próprias mãos os índices de contaminação. Os organizadores garantem que a exposição à radiação  já não é perigosa se o visitante ficar pouco tempo.
Após um rápido almoço na cantina dos funcionários de Chernobyl, o grupo se dirige até o sarcófago, a estrutura de aço construída em torno do reator 4, que explodiu na madrugada de 26 de abril de 1986, durante um teste de queda de potência.
Os operadores queriam reduzir a capacidade do reator para um quarto de sua capacidade, para ver como se comportaria um gerador de emergência movido a diesel, mas ela baixou a menos de 1%.
Quando a potência foi aumentada, no entanto, ela subiu demais e o processo ficou fora de controle. Um incêndio com temperaturas de milhares de graus derreteu a cobertura da usina e material radioativo começou a se dispersar pela região. A nuvem alcançou lugares distantes na Rússia e na Europa Ocidental.
O analista de energia nuclear da organização Greenpeace Shawn Patrick Stencil diz que uma pesquisa independente estima que entre 60 mil e 90 mil pessoas morreram ou irão morrer por causa do desastre. Mas os números oficiais são bem menores, pois as mortes vêm acontecendo aos poucos, e em muitos casos não é possível associá-las diretamente com o acidente.
Mapa Chernobyl (Foto: Editoria de Arte/G1)(Foto: Editoria de Arte/G1)
Sarcófago
Para evitar mais dispersão de material contaminante, foi construída uma estrutura de aço conhecida como sarcófago em volta do reator. Ela no entanto já apresenta desgaste e uma nova cobertura está em planejamento para guardar o material radioativo por mais 100 anos.

Depois é hora de visitar Pripyat, a famosa cidade fantasma onde moravam trabalhadores da usina. Mas não sem uma surpresa no trajeto: o ônibus passa num local chamado de "caminho radioativo". O contador Geiger começa a apitar e a marcar números muito mais altos do que foram registrados até mesmo na frente do reator 4. Pouco tempo após chegar na frente do sarcófago do reator 4, o grupo de turistas precisa sair. O tempo máximo de permanência no local é de 10 minutos.
Ainda assim, a medição é milhões de vezes menor que a registrada perto da usina logo depois do acidente, em 1986. A contaminação da região pelo pó radioativo se deu de forma irregular, por isso há pontos com radiação mais baixa ou mais alta lado a lado.
Enfim a excursão chega a Pripyat. A entrada na cidade se dá pela Avenida Lênin. O mato toma conta da praça principal e os edifícios estão caindo aos pedaços. No topo de um deles, a foice e o martelo lembram que esta já foi uma cidade modelo da União Soviética.
O guia da turma, Serguei, explica que a evacuação da cidade aconteceu em apenas duas horas. As pessoas foram avisadas de que deveriam deixar o local apenas com documentos e que voltariam quatro dias depois. Elas nunca mais regressaram.
Máscara de gás na sala de aula abandonada: tudo pronto para um eventual ataque. (Foto: Dennis Barbosa/G1)Máscara de gás na sala de aula abandonada: tudo
pronto para um eventual ataque.
(Foto: Dennis Barbosa/G1)
Assim como o hotel, a piscina comunitária está arruinada. Tudo foi abandonado subitamente. Andar pelos edifícios de Pripyat não é das coisas mais tranquilas: há pedaços de forro caídos e água pingando por todos os lados.
O ideal seria não entrar em contato com a poeira na zona de exclusão. Mas num lugar em ruínas lugar como esse, isso é praticamente impossível.
Escola
Na escola número 2 de Pripyat, o material escolar está espalhado por todas as partes. "É incrível ver como como todo mundo saiu correndo, deixando tudo para trás. Parece que houve uma guerra", comenta espantada uma turista canadense.
Guerra não houve, mas se houvesse, os moradores de Pripyat estariam preparados. As máscaras de gás espalhadas pelo colégio, para um eventual ataque inimigo, provam isso. Em 1986, ainda estávamos em plena Guerra Fria.
Serguei, o guia, nota que esta era uma típica escola soviética. Ele lembra que também estudou numa escola assim. Entre outras matérias, as crianças tinham treinamento militar. Aprendíam por exemplo, a montar e desmontar um fuzil AK 47 a partir da 7ª série.
O parque de diversões com sua roda gigante e pista de carrinhos é uma das visões mais conhecidas da cidade. Pripyat tinha uma população jovem na época do acidente – a idade média dos quase 50 mil moradores era de 24 anos. Também havia muitas crianças.
A cidade fantasma é a última parada do passeio. Os visitantes ainda têm sua radiação medida antes de irem embora da zona de exclusão e, enfim, retornam para Kiev.
Roda gigante no parque de diversões de Pripyat: a cidade que em outros tempos tinha uma população jovem, ficou parada no tempo. (Foto: Dennis Barbosa/G1)Roda gigante no parque de diversões de Pripyat: a cidade que em outros tempos tinha uma população jovem, ficou parada no tempo. (Foto: Dennis Barbosa/G1)

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